Saberes e habilidades livres!!!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Aula Inaugural

Interroguemo-nos sobre a qualidade de nossa educação. Desconfiemos de nós mesmos/as quanto aos limites de nossas perspectivas. Suspeitemo-nos de nossas tendências ao conformismo e à excessiva crença na infalibilidade dos mestres. A escola e a universidade devem ser libertos dos princípios autoritários e do estrangulamento do saber gerador das condições de liberdade. O saber deve ser tirado do controle irrestrito das Igrejas, dos Estados e, atualmente, das Corporações. Aprender não é tornar-se um/a cidadã(o) utilizável às funções públicas e/ou ao mercado. Portanto, perguntemos à nossa sociedade: qual é o objetivo de sermos educados?

Agora, imaginemos. Sanções, punições e adequações à ordem, não nos definem. Já a autoliberação faz-nos livres para tomar posse de nossas personalidades. A educação não é uma técnica, uma economia ou uma abstração. Muito menos uma repressão à originalidade. É um saber gozar a vida. É estar para além das preocupações mesquinhas que apoiam autoridades e mestres. É a própria ruptura com a pedagogia inimiga da percurso intelectual autêntico. Devemos escapar a qualquer custo da educação obrigatória, pois esta só nos encaminha ao voto e ao serviço militar obrigatórios. Ou, até mesmo, a uma carreira profissional, porém de anseios frustrados.


Aqui não temos pressa em acabar tudo rapidamente. Não queremos obter resultados imediatamente. Muito menos é uma elaboração de um produto para consumo ao estilo fast-food. Necessitamos da lentidão - o tempo despreocupadamente levado -, do rigor - como o de uma arte venerável sem utilização previamente concebida -, e da leveza - atingir as alturas para além da literalidade do que se estuda. Que tipo de pessoa somos enquanto estudamos? Entendo ou vivo o que estudo? Que relação vital tenho com a matéria estudada? É nossa vivência expandida em todas as suas nuances que apreende o que se estuda. Por aqui há uma apropriação da força do apreendido. O que torna o saber uma força que interage com outras forças. Seus efeitos são dinâmicos e amplamente variáveis. Mas tenhamos cuidado! Essa força não se pretende um enfrentamento direto com outros saberes, ou mesmo se pretende ser instrução. Apenas quer se combinar com outras forças para ir além das que até então existem.
Portanto, sejam benvindas/os às nossas aulas.


Cultivar-se.
Formar-se.
Fazer-se.
Autodescobrir-se.
Autodeterminar-se.

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segunda-feira, 15 de junho de 2009

O início

A Multiversidade Itinerante propõe ser uma instituição inspirada na universidade, porém, multipla, e em movimento, por não ter sede fixa, capaz de sustentar, criar e transmitir o espírito combatente, transformador e inventivo. Sua construção vital, portanto orgância, goi iniciada por dois interesses fundamentais: o d# estudante poder escolher quem e o que deseja estudar, quando e como; e o interesse docente em ser tutor produtivo do processo histórico-social. Ambos se confluem numa mensagem ético-política, dando movimento ao pensamento e à ação apostados.

Nesses multiplos versos, se ensina, aprende e se pesquisa segundo critérios científicos e, segundo o comprometimento da reciprocidade solidária entre pessoas atuantes de saberes e habilidades. A força transformadora de uma pedagogia da liberdade de personalidades que tomam em suas mãos a responsabilidade histórica de levar adiante uma cultura insurgente da autonomia e da autodeterminação. Aqui a pessoa é valorizada em todos seus saberes e habilidades, porém, ela não conhece tudo, precisa de outra pessoa valiosa, tanto quanto ela, pois a inteligência transformadora é, antes de tudo, coletiva.

"O andarilho. - Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais um andarilho sobre a Terra - e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Mas ele observará e terá olhos abertos para tudo quanto realmente sucede no mundo; por isso não pode atrelar o coração com muita firmeza a nada em particular; nele deve existir algo errante, que tenha alegria na mudança e na passagem. Sem dúvida esse conhecerá noites ruins, em que estará cansado e encontrará fechado o portão da cidade que lhe deveria oferecer repouso; além disso, talvez o deserto, como no Oriente, chegue até o portão, animais de rapina uivem ao longe e também perto, um vento forte se levante, bandidos lhes roubem os animais de carga. Sentirá então cair a noite terrível, como um segundo deserto sobre o deserto, e o seu coração se cansará de andar. Quando surgir então para ele o sol matinal, ardente como uma divindade da ira, quando para ele se abrir a cidade, verá talvez, nos rostos que nela vivem, ainda mais deserto, sujeira, ilusão, insegurando do que no outro lado do portão - e o dia será quase pior do que a noite. Isso bem, pode acontecer ao andarilho; mas epois virão, como recompensa, as venturosas manhãs de outras paragens e outros dias, quando já no auvorecer verá, na neblina dos montes, os bandos de musas passarem dançando ao seu lado, quando mais tarde, no equilíbrio de sua alma matutina, em quieto passeio entre as árvores, das copas e das folhagens lhe cairão somente coisas boas e claras, presentes daqueles espíritos livros que estão em casa nas montanhas, na floresta, na solidão, e que, como ele, em sua maioria ora feliz ora meditativa, são andarilhos e filósofos. Nascidos dos mistérios da alvorada, eles ponderam como é possível que o dia, entre o décimo e o décimo segundo toque do sino, tenha um semblante ainda mais puro, assim tão luminoso, tão sereno-transfigurado: - eles buscam a filosofia da manhã."
- aforismo 638 de Nietzsche em Humano demasiado Humano.

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